Em um avanço para tratar pacientes com ideação suicida, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) conseguiram encontrar alterações moleculares no cérebro e sangue de indivíduos que cometeram suicídio. A informação é importante para ajudar a identificar pessoas que fazem parte do grupo de risco e indicar o caminho para novas terapias que possam evitar o problema.
“Desde a ideação até a execução, o “suicídio” deve ser levado a sério. Ele é uma causa de morte evitável com intervenções oportunas, e esta é a principal motivação de nosso estudo. É preciso reduzir o estigma e compreender, de forma ampla e profunda, os diferentes aspectos biológicos, sociais e culturais envolvidos nas alterações de comportamento”, explica a neurocientista Manuella Kaster, uma das autoras da pesquisa, em entrevista à Agência Fapesp.
Existem vários fatores de risco já conhecidos do suicídio, como histórico familiar, traços de personalidade, condições socioeconômicas, exposição a ideias nocivas e presença de transtornos psiquiátricos (especialmente depressão e bipolaridade). Os cientistas brasileiros revisaram dados de outros estudos para identificar alterações moleculares em comum entre as vítimas. A pesquisa foi publicada na edição de fevereiro da revista científica Psychiatry Research.
Os principais marcadores considerados de risco foram alterações em sistemas de neurotransmissores, em especial de neurotransmissores inibitórios, no córtex frontal, área do cérebro que é uma das últimas a se desenvolver completamente e está relacionada ao controle emocional, comportamento e tomada de decisão.
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Cérebro e suicídio
O pesquisador Daniel Martins-de-Souza, que também fez parte do levantamento, conta que a análise também apontou alterações em algumas moléculas responsáveis pela regulação da expressão de diversos genes.
“Entre eles, o fator de transcrição CREB1 já foi amplamente explorado por seus efeitos na neuroplasticidade e por ser um alvo importante no efeito de fármacos antidepressivos. Contudo, os fatores de transcrição MBNL1, U2AF e ZEB2, associados ao processamento de moléculas de RNA, formação de conexões corticais e gliogênese, nunca foram estudados no contexto da depressão e suicídio”, detalha.
Os cientistas também perceberam no levantamento que muitos dos indivíduos que cometem suicídio procuram atendimento médico no ano anterior ao incidente. Porém, como o diagnóstico de risco ainda é feito de forma clínica, sem exames, eles não recebem a atenção necessária para evitar o trágico desfecho.
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