Nikolas Ferreira repete modelo de vídeo sobre o Pix para defender projeto da anistia na Câmara

Folha do Araripe

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Do jornal O Globo

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) voltou a adotar um modelo similar de vídeo em suas redes sociais, usado em janeiro para revogar a fiscalização em transações bancárias como o Pix, para defender o projeto na Câmara que pede a anistia dos condenados pelos ataques golpistas do 8 de Janeiro. O vídeo foi lançado na última quinta-feira, a três dias dos atos bolsonaristas em São Paulo que trazem como mote a anistia, e alcançou 53 milhões de visualizações até o fim da tarde deste sábado.

A publicação que viralizou sobre o Pix, em janeiro deste ano, tem 329 milhões de visualizações. O parlamentar usa o mesmo fundo preto, camisa escura e calça jeans, e em pouco mais de sete minutos defende o projeto de Lei na Câmara, e compara casos da luta antirracista dos Estados Unidos na década de 1950 nos Estados Unidos às pessoas condenadas por depredarem o patrimônio público nas sedes dos Três Poderes, em Brasília.

Nikolas cita a ativista Rosa Parks, do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, ao caso de Débora Rodrigues, que pichou de batom a frase “Perdeu, mané” na estátua “A Justiça”. “A injustiça contra uma mulher virou um marco de uma luta coletiva. Lá foi um ônibus, aqui um batom”, diz o deputado ao comparar os casos.

O parlamentar diz que a pena pedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, é exagerada. No entanto, ele não explica que a condenação de 14 anos imputada a ré traz cinco crimes.

Durante os atos golpistas, Débora foi fotografada escrevendo com batom na estátua que fica em frente no STF. A frase foi dita pelo ministro Luís Roberto Barroso (hoje presidente do STF) a um manifestante bolsonarista que o abordou em Nova York, em novembro de 2022. Ela é ré no STF devido ao episódio. Ela começou a ser julgada no mês passado, entretanto, o ministro Luiz Fux pediu vista do caso, e indicou que irá sugerir uma pena menor. Dias após a repercussão, Moraes concedeu prisão domiciliar a pichadora.

Ao fim do vídeo, Nikolas chama as pessoas para o ato bolsonarista em São Paulo, que traz como principal mote a defesa da anistia. Na Câmara, o texto segue sem previsão de ser pautado. O PL, partido de Nikolas, não conseguiu convencer os líderes partidários da Casa a aderirem ao requerimento de urgência do projeto de lei. Sem o apoio formal das siglas, a legenda agora tenta colher assinaturas individuais de deputados.

Viral em janeiro com Pix

Nikolas repete neste vídeo o formato de seu maior conteúdo viral desde que consagrou como político de grande adesão nas redes sociais. Em janeiro, uma publicação sua sobre o monitoramento do Pix foi apontado por bolsonaristas como o motivo do recuo do governo sobre a medida anunciada pela Receita Federal. Após o episódio, à época, o parlamentar superou o presidente Lula em número de seguidores no Instagram.

O GLOBO fez um levantamento em 521 vídeos com mais de um milhão de visualizações postados pelo parlamentar no Instagram mostrando o caminho trilhado desde 2013 até os dias atuais, em que é considerado um porta-voz da direita mais radical.

14 anos

Relator do caso no STF, Moraes imputou a Débora cinco crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, com pena de 4 anos e 6 meses de reclusão; golpe de Estado, com pena de 5 anos; dano qualificado, com violência à pessoa ou grave ameaça, ao patrimônio da União, por motivo egoístico ou prejuízo considerável para a vítima, com pena de 1 ano e 6 meses de detenção e multa de R$ 25.300; deterioração do Patrimônio tombado, com pena de 1 ano e 6 meses e multa de R$ 25.300; e associação criminosa armada, com pena de 1 ano e 6 meses de reclusão.

O ministro também votou para que a cabeleireira seja condenada a pagar, em divisão com os demais condenados, indenização por danos morais de R$ 30 milhões.

O relator destacou em seu voto uma foto em que a cabeleireira “segura um aparelho de telefonia celular, demonstrando orgulho e felicidade em relação ao ato de vandalismo que acabara de praticar contra escultura símbolo máximo do Poder Judiciário brasileiro”.

Débora Santos foi presa no âmbito da Operação Lesa Pátria pela Polícia Federal em março de 2023. Em novembro do ano passado, já em seu julgamento no STF, ela escreveu uma carta pedindo desculpas a Moraes, que foi lida durante uma audiência de instrução do seu processo, em novembro. No texto, ela afirma que na época não sabia da importância da estátua, mas que depois conheceu a história da obra e do seu autor, o artista mineiro Alfredo Ceschiatti.

Na carta, Santos também pede desculpas à nação brasileira como um todo. Segundo ela, outra pessoa começou a escrever na obra, mas pediu que ela continuasse, porque sua letra seria feia.

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