O potencial econômico do eixo Petrolina-Araripina; uma nova história para o Oeste de Pernambuco

Folha do Araripe

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Por Geraldo Eugênio*

O uso intensivo da irrigação, uma saga iniciada há aproximadamente sessenta anos, tornou Petrolina um dos mais prósperos municípios brasileiros, passando a ser o principal polo de desenvolvimento do submédio São Francisco. O interessante é que esta cidade por décadas era um ponto de passagem para quem se dirigia à Juazeiro da Bahia. Três instituições podem ser consideradas como dínamos para esta caminhada. A Sudene – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, precursora no apoio a atividades de pesquisa visando a agricultura irrigada, destacando-se a vitivinicultura; a Codevasf – Companhia de Desenvolvimento do O Vale do São Francisco é responsável por mostrar ao país a riqueza da fruticultura irrigada no Submédio São Francisco. A instalação dos perímetros irrigados atraiu centenas de produtores e empresários de outras regiões para Petrolina e Juazeiro. Em 1974, a Embrapa decidiu instalar na cidade de Petrolina seu centro de pesquisa dedicado ao Semiárido, o que possibilitou uma maior interação com as demais unidades da empresa, além de diversos institutos e universidades do exterior

Já no noroeste do estado, que tem como principal pólo de desenvolvimento o município de Araripina, o movimento de inserção tecnológica e empresarial foi mais lento. Por longo tempo a principal atividade da região do Araripe foi a extração e calcinação do gesso que apesar de sua representatividade industrial, agrega pouco valor e depende ainda hoje do uso da caatinga como fonte de energia. Sem deixar de considerar a importância, o preço ambiental que a atividade imprimiu sobre a região foi negativo e a devastação da cobertura vegetal nativa intensa, apesar de  reconhecer que esforços empreendidos em várias gestões do Governo de Pernambuco pouco têm alterado o cenário. Aqui nesta coluna foi feito referência a última proposta em curso do governo estadual de facilitar o uso de gás natural nas unidades de queima através da instalação de um entreposto do combustível em Araripina e, daí distribuir para as centenas de empresas que trabalham com gesso para a construção civil e outros fins industriais.

Há uma década a atividade de produção e distribuição de energia eólica nos municípios do Piauí contíguos a Pernambuco e ao Ceará trouxe uma nova opção de desenvolvimento para a região. Este parque se consolida a cada dia e cresce na região fronteiriça dos estados em referência. Passando a região a ser exportadora de energia elétrica que em se redesenhando o mapa da indústria e da agricultura poderá usar este bem extremamente precioso para o crescimento local.

Cadeias produtivas portadoras de futuro

Dentre as cadeias produtivas portadores de futuro, destacam-se:

Energia renovável – Em se contando com o potencial de energia eólica e fotovoltaica, o oeste de Pernambuco poderá ser uma base produção intensiva de energia que até o presente é usada pelo sistema nacional para abastecer a demanda de outras regiões. Importante, mas insuficiente para as mudanças que a região exige. Exportar energia não é uma atividade geradora de riqueza. Este é o fato.

Produção mineral – A presença das jazidas de gipsita e de calcário ao sopé da Chapada do Araripe entre Ouricuri e Araripina merece ver seu potencial otimizado. Vale voltar ao tema da demanda pelo gesso agrícola e pelo calcário no Cerrado piauiense, maranhense e baiano. No momento este mineral é negociado a preços extremamente baixos chegando uma tonelada de gesso agrícola ter um valor de aproximadamente dez dólares. Algo incompreensível para o impacto que sua aplicação tem na agricultura do milho, da soja, do café e das pastagens. Em parodiando o comentário anterior, vender a gipsita ou mesmo o gesso para construção civil não tem sido um negócio transformador com a gravidade de que a segunda opção cobra um preço ambiental rural e urbano extremamente elevado. Os impactos sobre a saúde das pessoas e a extinção das espécies da caatinga não têm sido devidamente somados.

Apicultura – Aparentemente uma atividade secundária, destaca-se importante do ponto de vista econômico e social além de se constituir na mais importante política de preservação da caatinga. Não há nenhuma outra atividade que em um curto prazo consiga dotar o pequeno e médio produtor de uma renda razoável, além der um contentor para o desmatamento. O balanço ambiental ou financeiro do uso da caatinga na produção de mel e derivados é positivo enquanto seu uso como fonte energética não compensa financeira ou ambientalmente, qualquer que seja o critério de mensuração usado.

 Agricultura irrigada – Há pouco tempo esta coluna se dedicou a demanda justa por parte de Pernambuco para com o Canal do Sertão. Uma obra que se inicia em Casa Nova na Bahia e se estende até o município de Exu, no Araripe, com um potencial irrigado de trinta mil hectares. Esta iniciativa se tomada à sério redime a região Oeste do estado sinalizando para uma transformação sem precedentes para Petrolina, Afrânio, Dormentes, Santa Filomena, Santa Cruz, Ouricuri, Araripina, Trindade Ipubi, Bodocó, Granito e Exu.

Pecuária de alto padrão – A ovinocultura de Dormentes e Afrânio é uma realidade, mesmo se baseando em sistemas dependente exclusivamente das águas pluviais. Em se contando com a irrigação e a otimização para produção de alimentos animais, a região poderá se tornar a principal área de produção e mercado de carnes nobres para centros como Fortaleza, Recife, Salvador, Petrolina e os estados do Sudeste.

Bioeconomia – Em vários momentos discutiu-se o papel ímpar da caatinga e seu potencial econômico e ambiental. É nela e nas regiões áridas e semiáridas do mundo que se encontram escondidos o mais importante ativo para a agricultura do futuro em um mundo que se aquece a cada ano, os genes que conferem tolerância a estresses hídricos e temperaturas elevadas. Além disto o uso dos compostos químicos do bioma na produção de fármacos, de cosméticos, de produtos de higiene pessoal e doméstico tem um potencial, pode-se dizer, fantástico.

As limitações invisíveis e negligenciadas

Alguns pontos a serem considerados têm sido discutidos, mas nada que demonstre a urgência que o caso exige. Alguns desses não têm sido detectados pelo radar de quem planeja o estado. Que se analise caso a caso, iniciando pelas questões invisíveis. A primeira delas é a ausência de uma universidade pública com forte base em engenharias, agrárias, informação e ciências humanas na cidade de Araripina. Não há justificativa para o governo estadual e federal não haverem atentado para o hiato que é a não escolha deste município como um expoente de educação técnica de nível médio e superior. Encontra-se em instalação um Instituto Federal, o que é algo louvável, entretanto, enquanto Araripina não contar com um campus universitário federal ou estadual o mapa continua incompleto. O segundo quesito a ser considerado é a total falta de discussão sobre a duplicação das rodovias no triângulo compreendido entre os municípios de Salgueiro, Petrolina e Araripina. Pensem bem.

Entre os itens negligenciados, existem dois objetos de muita discussão e pouca ação. A duplicação da BR 232 em toda sua extensão e um outro diretamente relacionado que é a ligação da rodovia Transnordestina entre Eliseu Martins e o Porto de Suape. São duas obras que alavancarão o desenvolvimento econômico de todo o estado e potencializarão a importância da região Oeste, o que abrange o Sertão do São Francisco, o Sertão do Araripe e o Sertão Central.

Este texto eu compartilho com o amigo, professor e empresário Everaldo Feitosa. Ele tem instigado uma discussão neste sentido e está pronto a colaborar com qualquer iniciativa que leve em consideração uma proposta que aponte para um Pernambuco futurístico, mas plenamente real.

*Editor do Jornal o Sertão e professor Titular da UFRPE-UAST

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