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PF aponta cooperativa ligada ao MST em suposto esquema milionário de fraude em cestas básicas.
A Polícia Federal apura um suposto esquema de fraude na distribuição de cestas básicas durante a pandemia de covid-19, no Tocantins, que movimentou cerca de R$ 38 milhões em contratos. A investigação atinge diretamente o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), além de familiares e assessores, e também envolve a Cooperativa dos Trabalhadores da Reforma Agrária Terra Livre, ligada ao MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra).
Segundo decisão sigilosa do ministro Mauro Campbell, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), divulgada pelo UOL, a cooperativa teria fechado contrato de R$ 3,7 milhões com o governo estadual, mas não entregou nenhuma cesta básica. As notas fiscais e documentos teriam sido emitidos apenas formalmente, sem envio de alimentos do Rio Grande do Sul ao Tocantins.
“Foram reunidos fortíssimos indícios de que a cooperativa apenas participou formalmente das contratações, sem enviar concretamente qualquer alimento”, destacou Campbell em sua decisão.
Como funcionava o esquema
De acordo com a PF, servidores públicos e suspeitos ligados ao governo estadual direcionaram o processo de compra. Mensagens de WhatsApp revelam que dois investigados teriam usado o nome da cooperativa, em conjunto com dirigentes e um contador, para viabilizar o contrato.
A integração seria tamanha que até o contrato de aluguel de um galpão, onde seria instalada uma filial da cooperativa no Tocantins, foi assinado por um assessor especial do governador.
Operação e suspeitas
A operação da PF, deflagrada em 21 de agosto, cumpriu 41 mandados de busca e apreensão, atingindo o governador, a primeira-dama e dois filhos. A investigação aponta que parte das cestas não foi entregue ou foi entregue em quantidade menor do que a contratada.
Um dos pontos mais graves é o saque em espécie de R$ 916 mil feito por uma assessora de Barbosa. O destino do dinheiro ainda é investigado, mas há suspeitas de que poderia ter abastecido o próprio governador.
Defesas
Apesar das citações, nenhuma medida foi determinada contra a cooperativa ou dirigentes do MST. O MPF argumentou que as provas contra a entidade foram encontradas em outro inquérito, no Maranhão, e não foram formalmente incluídas nesta investigação.
A cooperativa disse que “só se manifestará caso seja intimada” e destacou seu histórico de fornecimento de alimentos em diversos estados, ressaltando que não foi alvo de busca e apreensão.
O governador Wanderlei Barbosa afirmou ter recebido a operação com “surpresa e tranquilidade”. Disse que não era ordenador das despesas relacionadas às cestas básicas no período investigado e declarou confiança em sua inocência. O governo estadual informou colaborar integralmente com as investigações.
Brener Nunes
Jornalista formado pela Universidade Federal do Tocantins.