145
Por Lusmar Barros, Folha do Araripe
Araripina, 29 de setembro de 2025 – No coração do Polo Gesseiro do Araripe, onde o “ouro branco” da gipsita sustenta a economia de milhares de famílias, uma sombra de preocupação paira sobre o futuro da região.
A Ferrovia Transnordestina, que promete revolucionar a logística no Nordeste, avança com planos para instalar portos secos em pontos estratégicos, como Trindade (PE), Eliseu Martins (PI) e Quixeramobim (CE). Contudo, a falta de união política e mobilização regional ameaça reduzir o Araripe a um simples terminal de carga para gesso, em vez de transformá-lo em um hub logístico de referência.
“Trindade Pode Mais! O Araripe Pode Mais!”, clama a prefeita de Trindade, Helbinha Rodrigues, uma das poucas lideranças a encabeçar o pleito pelo Porto Seco, com apoio de entidades como a FIEPE – Regional Sertão do Araripe e o SINDUSGESSO.
O Porto Seco ferroviário em Trindade, planejado para o Sítio Abóbora – a apenas seis quilômetros do distrito de Lagoa do Barro, em Araripina, e próximo à BR-316 –, representa uma oportunidade única. Mais do que um ponto de escoamento de gesso, o projeto poderia posicionar o Araripe como um centro de distribuição multimodal, conectando produtos como gesso, calcário, grãos da Chapada e itens agropecuários a mercados como o Matopiba, Paraguai, Chile e Colômbia.
A ferrovia promete reduzir o custo de frete em até 30%, de R$ 65 para R$ 15-20 por tonelada no trajeto ao Recife, beneficiando as 979 empresas do cluster gesseiro, que geram R$ 1,4 bilhão anuais e 13 mil empregos diretos. Sem articulação, porém, a Transnordestina Logística S.A. (TLSA) parece focada em um terminal básico para “pegar o gesso”, ignorando o potencial de exportação e diversificação.
Com a 10ª ExpoGesso, o maior evento de negócios do Araripe, se aproximando em Trindade, a região tem uma janela crucial para fortalecer o pleito. A feira, que reúne empresários, investidores e autoridades, é o momento ideal para pressionar pela instalação do Porto Seco e sua integração à ferrovia. Apesar do envolvimento da FIEPE e do SINDUSGESSO, que têm debatido o tema em eventos como o Conexões Transnordestina, realizado em agosto em Araripina, as notícias raramente destacam Trindade.
A ausência de outros prefeitos e deputados regionais no movimento é notória. “O que falta no Araripe é união. Cada um pensa apenas em si próprio, e assim vamos ficar para trás mais uma vez”, lamenta um empresário local.
A TLSA planeja cinco portos secos e dois terminais intermodais ao longo da ferrovia, que cruza Pernambuco, Piauí e Ceará, com operações assistidas previstas para 2025. Recentemente, a Sudene liberou R$ 811 milhões para o trecho cearense, e a licitação do lote SPS-4 está marcada para outubro. No entanto, sem pressão conjunta, o Araripe corre o risco de “ver o trem passar e pegar apenas duas ou três caçambas de gesso”.
O polo gesseiro, que responde por 90% da produção nacional, já sofre com fretes rodoviários caros – mais custosos que o próprio gesso – e a concorrência de importações espanholas.

Entidades como a FIEPE e o SINDUSGESSO, ao lado de lideranças e apoiadores como Daniel Torres, presidente da ADESA, defendem que o Porto Seco poderá transformar o Araripe em um “hub logístico do Nordeste”, atraindo investimentos em avicultura, pecuária e agricultura.
“É lamentável pensar que podemos perder essa conquista. O Araripe tem potencial para ser referência, mas precisa de união”, alerta Torres. A ExpoGesso é a chance de mobilizar prefeitos, deputados e empresários para um pleito conjunto junto à TLSA e ao Governo de Pernambuco. Sem isso, o “ouro branco” continuará preso às rodovias, e o sonho de um Araripe próspero, integrado ao Brasil, será apenas poeira no vento.

Prefeita de Trindade-PE Helbinha Rodrigues