CPMI do INSS: Oposição avança contra entidades ligadas ao PT em meio a blindagem de testemunha-chave

Por Redação Folha do Araripe Araripina, 06 de outubro de 2025

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS vive momentos de tensão com a recusa da base governista em ouvir Edson Claro Medeiros Júnior, ex-funcionário de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, figura central em um suposto esquema de fraudes bilionárias contra aposentados. Disposto a revelar detalhes sobre propinas em dinheiro vivo, Claro tem sido alvo de pelo menos quatro requerimentos de convocação, todos barrados por votação apertada na sessão de quinta-feira (2). A manobra, interpretada pela oposição como uma tentativa de “blindagem” por parte do PT e aliados, reacendeu o foco em entidades como a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), controlada pelo partido e suspeita de desviar bilhões de recursos de trabalhadores rurais aposentados.

O episódio expõe fissuras na CPMI, instalada em agosto para investigar fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que, segundo estimativas da Polícia Federal, podem ter ultrapassado R$ 6 bilhões em descontos indevidos de benefícios previdenciários. Edson Claro, que já prestou depoimento à Polícia Civil de São Paulo relatando ameaças de morte por parte de Antunes, é visto como uma “testemunha-bomba” capaz de conectar o “Careca do INSS” a uma rede mais ampla de corrupção, incluindo pagamentos em espécie para facilitar os desvios. “Ele decidiu contar tudo após ser ameaçado”, destacou o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (PL-AL), durante a sessão, ao insistir na convocação. A votação terminou em 16 a 14 contra o depoimento, com a base do governo Lula unida em objeção – incluindo deputados petistas como Rogério Correia (MG), que retirou um requerimento próprio protocolado semanas antes.

Contag na mira: Relatório do Coaf aponta irregularidades bilionárias

Com o impasse em torno de Claro, a oposição redirecionou os holofotes para a Contag, entidade sindical rural historicamente alinhada ao PT e presidida até recentemente por Aristides Veras dos Santos, irmão do deputado federal Carlos Veras (PT-PE). Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), aprovado para análise na CPMI, revela movimentações atípicas de até R$ 3,7 bilhões na gestão de Aristides, com indícios de desvios de descontos associativos cobrados diretamente de aposentados rurais – um mecanismo que, segundo investigações da PF, afetou mais de 1,3 milhão de beneficiários.

A Confederação, que arrecadou cerca de R$ 2 bilhões em um único ano com esses repasses, é acusada de operar em “fundos de renda fixa de longo prazo” de forma incompatível com suas declarações fiscais, além de transações classificadas como suspeitas de lavagem de dinheiro. Aristides Veras, cuja convocação foi aprovada na primeira sessão deliberativa da CPMI em agosto, alega problemas de saúde para adiar seu comparecimento – situação que oposicionistas, como o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), classificam como “suspeita”. “O que eles têm a esconder? Vamos insistir até o fim”, afirmou van Hattem em vídeo nas redes sociais, protocolando novo requerimento para Claro logo após a derrota na votação.

Outro nome na lista de convocados é Thaisa Daiane Silva, secretária-geral da Contag, que deve explicar o mecanismo de descontos automáticos nos benefícios previdenciários. Investigada pela PF por suposto enriquecimento ilícito, Thaisa adquiriu imóveis no Mato Grosso do Sul avaliados em R$ 600 mil logo após o auge das fraudes, em 2022 – uma compra questionada à luz dos R$ 2 bilhões faturados pela entidade com os repasses indevidos. A Contag, em nota oficial, nega irregularidades e afirma ter denunciado práticas abusivas ao INSS em duas ocasiões, mas a entidade permanece sob escrutínio, especialmente por sua proximidade com conselhos presididos por Lula, como o da Igualdade Racial e o de Saneamento.

Repercussão e próximos passos

A sessão da CPMI, que aprovou 88 requerimentos em um dia, incluindo convocações de ex-servidores do INSS, foi marcada por bate-bocas e acusações de obstrução. Parlamentares da oposição, como o senador Carlos Viana (MDB-MG), presidente da comissão, prometem intensificar as oitivas contra o “núcleo PT” nas próximas semanas. “Ou respondem, ou a polícia vai atrás. Essa presidência não vai recuar”, declarou Viana em pronunciamento.

Nas redes sociais, o tema ganhou tração, com postagens criticando a “blindagem petista” acumulando milhares de interações. Um vídeo do deputado van Hattem, por exemplo, foi visualizado mais de 63 mil vezes em poucas horas, questionando: “O que os petistas têm tanto a esconder?” Do lado governista, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) comemorou a rejeição, alegando que Claro não é “essencial” para os trabalhos – posição que opositores veem como evidência de pânico.

Enquanto a CPMI avança, aposentados rurais do Araripe, muitos afetados pelos descontos, aguardam respostas. A região, com forte presença de trabalhadores da agricultura familiar, vê no caso um reflexo de como fraudes distantes impactam vidas locais. A Folha do Araripe apurou que sindicatos pernambucanos, filiados à Contag, já registram queixas de beneficiários lesados, reforçando a urgência de transparência.

A próxima sessão da CPMI está marcada para 10 de outubro, com expectativa de novas votações sobre as convocações pendentes. O caso continua a polarizar o Congresso, em um ano eleitoral que promete mais revelações sobre os bastidores do INSS.