Lar Economia A Transnordestina: Um Projeto Arrastado por Atrasos, Cortes e Falta de Visão Estratégica

A Transnordestina: Um Projeto Arrastado por Atrasos, Cortes e Falta de Visão Estratégica

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Por Lusmar Barros, Folha do Araripe
A Ferrovia Transnordestina, concebida como uma artéria vital para o desenvolvimento logístico e econômico do Nordeste brasileiro, continua a ser um símbolo de promessas não cumpridas e planejamento deficiente por parte do governo federal. Anunciada como uma ligação estratégica entre o Piauí e o Porto do Pecém, no Ceará, a obra acumula quase duas décadas de atrasos, cortes orçamentários e devoluções de trechos, revelando uma tendência preocupante: em vez de expansão, o que se vê é uma redução sistemática da malha ferroviária regional. Essa realidade reflete não apenas a ineficiência administrativa, mas também a ausência de força política para impulsionar um projeto mais arrojado e integrado, capaz de transformar verdadeiramente a economia do Nordeste.
Desde sua concessão em 1997 à Transnordestina Logística S.A. (TLSA), empresa controlada pelo Grupo CSN, a ferrovia tem sido gerida sob uma lógica que prioriza interesses privados em detrimento de um plano nacional coeso. A TLSA, detentora da antiga Malha Nordeste, negocia há anos com o governo federal para renovar contratos, mas o resultado tem sido desastroso: isolamento de trechos, desaparecimento de trens e uma concessão criticada por especialistas como um entrave ao progresso regional. Em vez de conectar efetivamente os estados nordestinos — como Piauí, Ceará e Pernambuco —, o projeto tem sofrido com interrupções constantes, agravadas por brigas políticas e falta de coordenação entre entes federais.
O investimento total previsto é de R$ 15 bilhões, com R$ 4,4 bilhões vindos do governo federal, mas os avanços são lentos: em julho de 2025, o trecho principal estava 75% concluído, com previsão de testes em outubro e conclusão em 2026.
No entanto, esses números mascaram uma realidade de ineficiência, onde obras intermitentes e promessas não cumpridas dominam o cenário.
A falta de planejamento do governo federal — tanto no atual mandato quanto nos anteriores — é evidente. O Brasil, apesar de sua extensão territorial e potencial produtivo, não possui um plano integrado de desenvolvimento ferroviário. O Plano Nacional de Ferrovias, por exemplo, está atrasado, e o governo assume apenas 20% a 30% dos investimentos necessários, dependendo de parcerias que nem sempre se materializam.8c9e6f No Nordeste, isso se traduz em uma dependência excessiva da TLSA, que “manda e desmanda” há 20 anos, priorizando reduções em vez de expansões.
Críticas apontam para um desmonte de iniciativas privadas, com decisões centralizadoras que travam o setor e perpetuam uma matriz de transportes rodoviarista, cara, poluente e ineficiente. Onde está a ambição para um projeto que integre não só cargas, mas também passageiros, revitalizando malhas abandonadas e conectando o Nordeste à Ferrovia Norte-Sul?
A ausência de liderança política resulta em um ciclo vicioso: investimentos anunciados, como os R$ 1,4 bilhão liberados em julho de 2025, são bem-vindos, mas insuficientes para compensar anos de negligência.
Um exemplo claro dessa inércia política é a solicitação recorrente para a instalação de um porto seco em Trindade, no Sertão do Araripe, em Pernambuco. Essa infraestrutura é vista como essencial para fortalecer a economia local, especialmente no polo gesseiro, que abriga a maior jazida de gipsita do Brasil e depende de logística eficiente para o escoamento de produtos.
Proposto no Sítio Abóbora, a apenas seis quilômetros do distrito de Lagoa do Barro, em Araripina, o porto seco integraria a Transnordestina, com planos para cinco portos secos ao longo da ferrovia, incluindo um em Trindade.
Apesar das mobilizações locais e estudos da Agência de Desenvolvimento Econômico e Social do Araripe (ADESA) destacando o potencial da região na tríplice fronteira entre Pernambuco, Piauí e Ceará, há pouca movimentação política efetiva para direcionar melhorias na geopolítica regional.
Alertas recentes apontam que, sem essa estrutura, o Araripe corre o risco de perder o “trem da prosperidade”, perpetuando o isolamento econômico e a dependência de transportes rodoviários ineficientes.fe25d6 Essa falta de força política reflete uma negligência maior, onde demandas locais são ignoradas em favor de prioridades centralizadas, agravando desigualdades no Sertão.
Essa desorganização não é apenas técnica; é política. Brigas entre lideranças regionais, como a demissão de superintendentes da Sudene, reforçam opções que priorizam ramais isolados em vez de uma visão holística.
O Nordeste, historicamente marginalizado em investimentos federais, vê projetos como a Transnordestina serem relegados a “pilotos” ou testes parciais, sem o compromisso necessário para uma transformação real. Críticos argumentam que o foco em estradas, em detrimento de ferrovias e hidrovias, é um erro estratégico que perpetua desigualdades e aumenta custos logísticos. Imaginem o potencial perdido: uma malha ferroviária revitalizada poderia reduzir acidentes, gerar empregos e impulsionar o escoamento de produtos agrícolas, minerais e industriais, conectando o interior ao litoral de forma sustentável.
Nesse contexto, eventos como o Conexões Transnordestina, promovido pelo Movimento Econômico, surgem como oportunidades cruciais para mobilização. No dia 14 de outubro de 2025, em Caruaru, no Empresarial Epic Tower do Caruaru Shopping, das 9h às 13h, o seminário discutirá o traçado da obra em Pernambuco, dando voz ao setor produtivo local. É uma chance para ouvir demandas, propor sugestões e pressionar contra retrocessos, como a substituição da ferrovia por um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em trechos chave. As inscrições estão abertas pelo Sympla, e a participação é essencial para que o projeto não se limite a reduções, mas avance rumo a uma expansão ambiciosa.
O Brasil precisa urgentemente de um plano de desenvolvimento que transcenda mandatos e interesses corporativos. Sem organização e força política, a Transnordestina continuará sendo um retrato da ineficiência nacional: muita promessa, pouca entrega. É hora de o setor produtivo e a sociedade civil exigirem mais — por uma ferrovia que não apenas ligue pontos no mapa, mas impulse o futuro do Nordeste.

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