Por Lusmar Barros | Agosto de 2025
O Brasil atravessa mais uma fase de profunda instabilidade, tanto política quanto jurídica, marcada por crises recorrentes que minam a confiança da população em seus representantes e na própria estrutura do Estado. Em um cenário onde se arrecada como nunca, mas se entrega como sempre — ou até menos —, o país segue atolado em uma realidade desigual e desorganizada.
A Política do Interesse Próprio
Apesar das cifras bilionárias que entram nos cofres públicos por meio de uma das mais pesadas cargas tributárias do mundo, os recursos não chegam à população como deveriam. Faltam investimentos consistentes em saúde, educação, infraestrutura e segurança. Governos federais, estaduais e municipais culpam-se mutuamente, enquanto a máquina pública cresce, mas os serviços básicos permanecem precários.
Os políticos eleitos — em teoria, representantes legítimos da vontade popular — frequentemente operam dentro de interesses próprios ou partidários. O foco está na reeleição, nos acordos de bastidores e nas emendas parlamentares que, por vezes, funcionam como moeda de troca para barganhas políticas, e não como instrumentos de melhoria da vida pública.
A famosa “mesa do poder” tem sido palco de disputas egoístas, como se o cargo fosse um fim em si mesmo, e não um meio de transformação coletiva. Enquanto isso, o povo assiste, frustrado, ao teatro diário de escândalos, CPMIs inócuas e trocas ministeriais feitas como se o país fosse um tabuleiro de xadrez sem rei nem rainha.
A Constituição de 1988: Avanços e Brechas
No campo jurídico, o Brasil vive sob a égide de uma Constituição considerada, à época, um avanço histórico no processo de redemocratização. No entanto, com mais de três décadas de existência e centenas de emendas, a “Carta Cidadã” mostra-se hoje defasada em muitos pontos.
Ela mantém uma série de brechas interpretativas que criam insegurança jurídica, alimentam disputas entre os poderes e perpetuam privilégios para os mesmos de sempre — enquanto a classe trabalhadora, principal base de sustentação da economia nacional, arca com o peso das reformas e cortes de direitos.
O sistema judiciário, altamente técnico e politizado, por vezes age mais como agente político do que como guardião da Constituição. A judicialização da política virou rotina, e o ativismo judicial, em muitos casos, substitui a vontade do Legislativo, desequilibrando os três poderes.
A Economia de Potencial Não Realizado
O Brasil é rico — em terras, minérios, água, biodiversidade e, acima de tudo, em gente. Mas segue exportando matéria-prima e importando tecnologia, acumulando prejuízos na balança industrial e entregando o futuro nas mãos de nações mais preparadas. O país ainda não se viu como uma nação produtora de valor agregado, e sim como fornecedora de insumos baratos para países industrializados.
A ausência de uma política industrial robusta, de longo prazo, fez com que muitos setores produtivos fossem desmantelados, tornando o país cada vez mais dependente de importações e vulnerável a crises internacionais. Em vez de fomentar inovação e tecnologia, incentiva-se a especulação financeira e o agronegócio voltado à exportação.
Enquanto isso, recursos naturais estratégicos — como nióbio, lítio e petróleo — são entregues a preços simbólicos a multinacionais, muitas vezes sem contrapartidas sociais ou ambientais. O Brasil parece não compreender o valor de suas riquezas, tampouco a importância da soberania produtiva.
O Brasil Precisa Pensar como Nação
O verdadeiro drama brasileiro é a ausência de um projeto de país. Faltam metas nacionais, planos de desenvolvimento sustentáveis e compromissos de longo prazo que ultrapassem mandatos eleitorais. A polarização política sequestra o debate público e transforma qualquer proposta racional em batalha ideológica.
Se o Brasil quiser sair do ciclo de estagnação e dependência, precisará se olhar com coragem, revisar suas estruturas, modernizar sua Constituição, profissionalizar sua gestão pública e investir pesadamente em educação, ciência, tecnologia e indústria.
Chegou o momento de levantar a cabeça e perguntar: quem está sentado à mesa do poder? E, mais importante: a quem essa mesa realmente serve?
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