Alerta em Caruaru: Transnordestina Pode Aumentar Desigualdades e Revela Incompatibilidades Técnicas no Nordeste
Por Folha do Araripe
Petrolina, 18 de outubro de 2025 – O debate “Conexões Transnordestina”, realizado na última quarta-feira (15) no auditório da Associação Comercial e Empresarial de Caruaru (ACIC), acendeu um alerta grave sobre o futuro da principal ferrovia do Nordeste. Além de potencialmente acentuar as desigualdades entre os estados da região, especialistas destacaram incompatibilidades técnicas e a desproporcionalidade do projeto, que prioriza trechos isolados sem viabilidade econômica sustentável, deixando regiões como o Araripe em desvantagem.
Incompatibilidades Técnicas e Riscos de Desconexão
O evento, quinta edição da série itinerante organizada pelo Movimento Econômico em parceria com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), reuniu técnicos, empresários e autoridades. Após etapas em Salgueiro, Petrolina, Araripina e Belo Jardim, o seminário em Caruaru concentrou-se nos impactos do trecho Salgueiro-Suape, mas as discussões revelaram falhas estruturais que questionam a lógica do empreendimento como um todo.
Um ponto técnico crucial, muitas vezes negligenciado, é a incompatibilidade entre os ramais da ferrovia. O trecho Salgueiro-Suape é projetado com bitola larga de 1,60 metros, enquanto o ramal de Eliseu Martins (PI) a Pecém (CE) opera em bitola métrica de 1,00 metro em partes existentes, com planos para bitola mista ou larga em novas construções. Essa diferença significa que trens vindos de Suape (PE) precisariam parar em Salgueiro, sem trilhos adequados para prosseguir rumo ao Ceará ou Piauí, criando um gargalo logístico que compromete a integração regional. Especialistas no debate defenderam a adoção de bitola mista para corrigir essas falhas, mas alertaram que a persistência no modelo atual pode tornar o projeto ineficiente e desproporcional.
Além disso, o ramal Salgueiro-Suape não atende diretamente o Araripe, uma região rica em recursos minerais e agrícolas, reforçando a desproporcionalidade do investimento. “Essa configuração privilegia interesses pontuais, ampliando desigualdades em vez de reduzi-las”, afirmou um debatedor, destacando como trechos desconectados beneficiam apenas eixos isolados no Ceará e na Bahia.
Viabilidade Econômica Questionada: Baixo Volume de Cargas no Ramal Pernambucano
Apesar da insistência no ramal Salgueiro-Suape, sua viabilidade é contestada devido ao baixo volume de cargas em escala suficiente para justificar composições ferroviárias completas. “Você acha que vai encher 30 ou mais vagões só com baterias de Belo Jardim e sulancas de Caruaru? Claro que não”, questionou um especialista, apontando a falta de cargas em grandes proporções no Agreste pernambucano. Representantes do Polo de Confecções do Agreste expressaram preocupações semelhantes, notando que a ferrovia, em sua forma atual, não impulsiona o escoamento local de forma sustentável.
Em contraste, o ramal que conecta Piauí, Araripe e Pecém oferece potencial muito maior, com cargas robustas como soja do Piauí e Ceará, minério de ferro, gesso do polo gesseiro do Araripe, cimento de Fronteiras, mármore e calcário. Essa rota poderia reduzir custos de frete drasticamente – de R$ 165 para R$ 40 por tonelada no caso do gesso –, impulsionando a competitividade do Araripe e integrando melhor a região ao mercado nacional e internacional.
Contexto Histórico e a Necessidade de uma Visão Integrada
A Ferrovia Transnordestina, concebida há décadas para ligar Pecém (CE) a Suape (PE) por mais de 1.700 km, enfrenta atrasos crônicos, com apenas partes concluídas. O recente reinício das obras em Salgueiro-Suape gerou otimismo, but the Caruaru debate emphasized that without technical corrections and balanced prioritization, the benefits will be concentrated in a few areas, exacerbating inequalities.
A Sudene reforçou a importância de debates como esse para moldar políticas públicas, defendendo uma ferrovia que promova desenvolvimento equitativo. “Precisamos de conexões que movam não só cargas, mas o progresso de todo o Nordeste, incluindo o Araripe”, disse um representante.
Repercussões e Chamado à Ação para o Araripe
O seminário foi um sucesso, com repercussões nas redes e imprensa regional, e propostas para um fórum permanente de monitoramento. Para o Araripe e o interior nordestino, o debate é um chamado urgente: pressionar por investimentos que priorizem rotas viáveis e integradas, corrigindo a desproporcionalidade atual para unir, não dividir, a região. A Folha do Araripe seguirá cobrindo esses desdobramentos, defendendo o potencial econômico local.