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Novo hub no Ceará
O Polo Gesseiro do Araripe, que já respondeu por 95% da produção nacional de gesso, vem perdendo espaço e competitividade no mercado. Hoje, sua participação está em torno de 60% e a tendência é de recuo. A constatação foi feita por Fábio Monteiro, diretor regional da Fiepe, durante o seminário Conexões Transnordestina, realizado em Araripina na última sexta-feira (15), com promoção do portal Movimento Econômico e patrocínio da Sudene e do Governo de Pernambuco. Os dados têm como base informações da Agência Nacional de Mineração (ANM).
Há dois gargalos pressionando o setor, um é o logístico. O frete rodoviário até o Recife custa cerca de R$ 65 por tonelada — valor que poderia cair para até R$ 15 com a entrada em operação da Ferrovia Transnordestina. A diferença impacta diretamente a competitividade do gesso pernambucano frente a produtos importados, inclusive espanhóis, que chegam ao mercado brasileiro a preços mais atrativos. Além disso, o alto custo logístico dificulta a exportação para mercados como Paraguai, Chile e Colômbia.
A ameaça mais imediata, porém, vem de dentro do país. Mineradoras instaladas no emergente polo gesseiro do Maranhão estão conquistando clientes antes atendidos pelo Araripe. Apesar de terem menor volume, oferecem produtos com maior valor agregado e acesso facilitado a grandes centros consumidores.
Distante 680 km do Recife, o polo enfrenta décadas de isolamento e apelos por infraestrutura. Ainda assim, vem se posicionando em novos mercados, como o do gesso agrícola. Segundo Alexandro Grande, secretário de Desenvolvimento Econômico de Araripina, o insumo tem sido cada vez mais procurado por produtores de soja por sua capacidade de correção do solo. Estima-se que 1,2 milhão de toneladas de gesso agrícola sejam vendidas por ano, isso já equivale a 30% da produção mineral da região.
Energia é outro entrave ao gesso
Outro entrave é o acesso à energia. Com a escassez de lenha, as empresas precisam buscar matéria-prima a até 600 km de distância. A alternativa que se impõe é o gás natural, cuja chegada ao Araripe tem sido defendida há décadas, mas só agora, com o governo Raquel Lyra, se aproxima da realidade. No entanto, a anunciada planta de regaseificação ainda não se concretizou, embora o estado tenha avançado noutras frentes, com a alíquota zero de ICMS sobre o gás fornecido pela Copergás e criação de linha de crédito da Agência de Empreendedorismo de Pernambuco (AGE) para conversão dos fornos.
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Até o momento, há apenas 16 empresas interessadas em tomar esse tipo de empréstimo na AGE, com pré-contratos aguardando a entrada em vigor do fundo garantidor. Ainda é pouco. Tantos anos de espera deixaram larga desconfiança no Araripe. A região tem potencial, mas precisa de respostas mais rápidas e estruturais para não perder o lugar que conquistou na economia nacional.